Um pouco sobre meu trabalho

Por muitas vezes me pergunto se devo permitir momentos de interação como os de lazer e descontração com os interlocutores-amigos indo à praia, às lagoas ou mesmo às festas que acontecem pela comunidade e região, mas a própria correria do trabalho trata de impedir a existência desses momentos, e muitas vezes lamento por isso. Os contatos mais próximos e descontraídos que construí na comunidade são os que mais colaboram com o trabalho ao contrário dos contatos mais 'profissionais e sisudos'.
Por vezes preocupo-me com questões não teóricas, talvez não acadêmicas mas que toma tempo de abstração em relação à pesquisa. Por exemplo, pergunto-me se meu campo de fato é interessante ou se eu saberei trabalhá-lo de tal maneira que assim pareça. Pergunto-me igualmente se a insegurança no campo permanecerá anos a fio como se deu na graduação e como se repete na pesquisa de mestrado, mesmo com maior familiaridade, trânsito largo e, de certa maneira, livre entre variados grupos. Pergunto-me sempre como recortar uma realidade tão complexa a fins de um trabalho acadêmico-antropológico mesmo sabendo que o recorte já foi efetuado e que agora o campo tem que ter fim. Por fim me questiono se nunca será suficiente o quanto se leu, pois sempre haverá citações e referências sendo pedidas por nós mesmos no momento de textualização bem como sempre mais uma desconstrução será necessária fazer antes de nossas novas edificações teóricas e, igualmente, sempre haverá quem nos questione sobre o fato de não termos explorado essa ou aquela temática da vida social local ou das teorias da etnicidade, por exemplo. O trabalho antropológico que tenho feito tem me mostrado que não se apreende a lógica da vida social de um lugar como se fizesse a fotografia de uma comunidade, mas tenta-se perceber as transformações que são engendradas no momento em que elas acontecem. Mesmo que se trate de fatos e referências do passado, as construções verbais ou dinâmicas de grupo, de associações entre pessoas e suas articulações são efetuadas no momento da pesquisa em contato com o antropólogo, e são elas mesmas a construção das concepções locais, das visões de mundo de cada um, da influência sobre o parecer do outro, e outros tantos agenciamentos de situações e informações que os sujeitos sociais empreendem nas suas trajetórias. A compreensão de tal dinamicidade é, ao mesmo tempo, a maior parte do desafio e da adrenalina deste tipo de trabalho.

Comentários

Unknown disse…
Ao inalar suas reflexões, certifico-me das minhas expressões de fedelidade às condições da existência humana. Teorias,reivindicações,citações....prazos!
Os condicionamentos não são naturais...são impostos.
Somos reféns de uma "lógica burra"! Produtividade?! Não,não...apenas resignificados!
Cabe a você as interpretações e o novo.
Acredito no seu acreditar.

Axé!

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