A Puta

A puta transou com meu homem.
Transou com ele seis dias e seis noites enquanto eu o esperava para me amar.
A puta me viu, veio até mim e me cumprimentou. Até o momento parecia que sua profissão era outra. Qualquer outra.
Antes de encontrá-la pensei nela. Não sei por que razão fui acometida por uma sensação de desconforto.
Disse ao meu homem: Essa mulher não me deixa à vontade.
Meu homem me disse: Esteja à vontade ao meu lado.
Não pude, embora quisesse e tentasse.
Em meio ao coletivo de boêmios encontro-a quase sucumbindo em seu próprio veneno e, tendo que escarrá-lo, aproximou-se.
A puta sussurou em meu ouvido:
- Dormi com seu homem todas as noites. Segunda, terça, quarta, quinta e sexta feira seu homem foi meu.
Virou-se e saiu com alguma espécie de corno imaginário ao seu lado.
Vi-me perplexa e gargalhei!
Há tempos que os orixás me avisam dos perigos. Ouvi seus alertas. Ouvi também a esse. No entanto, por ouvir meu homem e não meu orixá, ouvi também uma puta dizer-me que o comeu por cinco dias enquanto eu esperava-o para dizer que me amava.
Disse ao meu homem: A puta me sussurou ao pé do ouvido com um sorriso bêbado na cara que lhe comeu por cinco dias. Depois olhou-me e foi embora.
Silêncio.
Meu homem mostrou-se incrédulo.
A puta, depois de destilar seu veneno jocoso e bêbado, deixou conosco um desconforto difuso e um constrangimento desnecessário. Deixou comigo a fotografia da gota de veneno escorrendo no canto esquerdo de sua boca. Deixou comigo um homem com a boa mexendo da qual não partiam palavras.
Perguntei ao meu homem se ele se deitou com aquela puta. Resposta óbvia.
O que a puta me deixou foi mais uma certeza para compor meu complexo quadro de questões irremediavelmente caladas e intranquilas.

Comentários

Postagens mais visitadas