Onde estão as palavras?

...e as palavras não saem...
vida trava-língua
eu, brinquedo na sua boca gaguejante.
...não saem... ...não entram...
olhos pra cima, prum lado, pro outro...
e elas entaladas na garganta...
eu, soluço do seu entalamento.
...não sai mais nada...
nem palavra nem pensamento
do teu peito torpe
...sopa de letrinhas serve o banquete sem palavras
que não alimenta alma nenhuma
...e somem todas elas misteriosamente...
entre dois tagarelas
cuja árdua tarefa é fingirem-se não cúmplices
do crime que cometeram
ao usarem todas aquelas palavras soltas
organizadas em oferendas de amor.
...some o sentido do falar...
se não se fala simplesmente
se não se vê
se se finge feliz ...em silêncio avassalador
...somem os sentidos todos, de todas as partículas do português...
de qualquer outro idioma que transmita símbolos, códigos básicos de comunicação...
somem as palavras substituídas por uma simples cabeça baixa...
o olhar para o chão torna-se saída para o olhar para si
para o que era o "eu"... o 'nós' não visto
somem todas as nossas palavras
as que não recebi
as que não me enviaram
ficam os nós do trava-língua
das contas em aberto... dos vazios conduzidos repletos de conteúdo
nas mesmas palavras até agora engolidas.

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