Minha última carta de amor

Hoje entreguei minha última carta de amor. Nos campos as imagens são vazias e paradas. Nos campos as folhas orvalham algumas lágrimas que a chuva dessa madrugada nos trouxe. As flores hoje não sentiram-se bem, somatizaram a tristeza, tiveram febre, dores, fissuras, abstinências.
Na carta de amor disse tudo que precisava dizer e em algum momento esperei que aquilo tornasse vivo meu boneco de pano. Mas não. Ele continuou sendo boneco, sem vida, sem brilho. Levou consigo a carta e um dever hercúleo para eximir-se de outras contas e por isso, também de si e de mim.
Hoje entreguei minha última carta de amor. Em algum poema perdido minha alma disse um dia que não suportaria mais golpes, mas aqui entre nós todos, o golpe que recebo é tomado por alguém como o mais adequado, o mais coerente, o que vai causar menos danos. Mas na conta dos danos não entram os meus. Não entro eu. Não decido eu.
Apenas não eu.

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