em busca do meu flow
ando pensando qual é a minha rima
buscando formas para conduzir a auto estima
tenho vontade de falar sobre cultura geral
sobre política e as coisas que saem no jornal
mas narrar os crimes me faz passar mal
o caos das ruas não me parece normal
crianças sendo ensinadas sobre o que é formal
e no espelho não me vejo em forma
nos empregos não consigo seguir as normas
no relógio não vejo passarem as horas
embora já seja hora novamente de buscar meu filho na escola católica
onde o convidaram para ser jesus na semana santa
e a negritude mestiça da criança é tanta que me espanta
dizendo que não queria ser o deus das pessoas brancas que nos mata
nesse dia a guerrilha da mãe preta tá salva
não é perda de tempo estar com a nova geração
estratégia de transformação
é parir e criar e crescer a razão e a noção
de seres em evolução
buscando ainda a minha rima
como quem pede em oração
a boca trava como a raiva de cão
mas escorro versos pela tinta da caneta
enquanto sei que irmãos e irmãs escorrem sangue pelos córregos da sarjeta
população negra em situação de extermínio cresce no Rio Grande do Norte
um minuto de silêncio é nada diante de tanta morte
agradecer a deus é regra por meu filho e eu termos tanta sorte
existirá sorte?
acesso a direitos antes negados a meu pai
negado é palavra que me distrai o pensamento
parece que padece a simetria do seu radical
de nega do nego da negação do meu ancestral
nada nesse mundo é muito racional
preta tem que ser como falcão peregrino
mais rápida do mundo e com um olhar traquino
ter a ligeireza do colibri que só mede dez centímetros
pra pegar o besta que pensa que tamanho é marco definitivo
bixo pequeno passa em brecha
enfesta
preto reluz besouro em festa
de espreita
de boresta
e mais uma vez a flecha da rima me leva
pra um lugar onde caminho sem direção
solta no meu flow que já não tem mais a preocupação
de explicar nenhuma equação
lembrando os poetas que alimentam minha canção
Kleiton poeta meu irmão lá do planalto
Do conjunto leningrado
el rei dissidente
Dj químico o mago
Kari y su Oxum sempre presente
Negra Flor Yalê
indolente insolente
Gaby potyguar insubmissa slamista
Dendê verbo fulô
Clara Preta Pretta Soul
Oremos a I.R.A.
bíblias anárquicas da improvisação
as mina faz justiça rimando com paixão
e eu sigo na dedicação com meu bebê
a poesia olha pra ele você pode ver
olhos fumegantes de amor quando me vê
e você me chama pra soltar meu flow
el niño hace el show
eu sento e descanso no remanso das sobras do meu caos
guardo a arte quando ponho o bocal na minha caneta azul
céu azul
eu de azul
Izaar claro azul
leva meu flow pra tu
eu já me canso de tanto guardar o mundo
nesse meu peito cheio preto e cru
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