Carta de amor ao fim dos tempos

Quando o mundo se acabou

Me deitei por 15 dias e 15 noites 

Em posição fetal e chorei em silêncio

Me ergui logo depois com a ira de Satanás

Que se descobriu cristão e se converteu à crença do amor

Ele me beijou ardentemente e me apertou

Como apenas os cafajestes sabem fazer

Mas não me desnorteou

Pois o mundo já tinha se acabado

Meu ódio já estava organizado

E eu me amava até depois do fim dos tempos

Exalava pimenta e dendê pela brecha dos olhos e via o mundo quente se iluminar

Escorria mel entre minhas pernas e minha língua salivava desejo

Nada mais havia por esperar pois o futuro tinha se acabado

Eu ria majestosamente com uma taça bem servida encaixada entre meus dedos fumegantes

No dia em que o mundo se acabou nada era mais saboroso que os cheiros do meu corpo

Satanás pecou ao me desejar, convertido que estava

Fui absolvida por eles pois na minha cosmologia Deus me via sempre continuando

Depois do fim do mundo me beijei ardentemente

De um jeito que ninguém fora de mim seria capaz

Apertei minhas carnes e estavam firmes

Meus seios fartos se encheram de leite e mel

De repente entendi deusa me refazendo à sua imagem e semelhança