Diário de uma negra. Maiodidoismilivintitrês.

Esse dia me odiei por demorar a perceber que o médico sentiu nojo de mim e não me tocou. Ele se retorcia feito cobra em areia quente para tentar enxergar algo diagnosticável e precisava estar próximo, mas não me tocou. Depois veio a vez do meu filho, mesma procura, outro cuidado. Dos mais claros eles não tem asco? O sufoco reside na busca por outras explicações para não permanecer habitando o absurdo.
O sufoco desorganiza a cena, é quase como se eu não soubesse mais ler. Esse dia eu odiei me odiar por não quebrar tudo e sair em silêncio mensurando o que é pior: o custo emocional do barraco ou o do silêncio. Em certos dias não existe meio termo. 

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