carnaval
O mundo cessou de ruído nesses dias de festa. Não chegam mensagens, os sinais de fumaça não trazem a intensão de ser, não me diziam nada. Um pouco de saudade toca rabeca desafinadamente comigo. Podia ser meu berimbau, tão íntimo e ainda desafinado. O desafino é quase um jeito que meu corpo dá. Confesso que às vezes enlouqueço, já disse isso outras vezes e sempre acontece de um jeito novo. Está bem viva minha capacidade de sair da realidade, frequentemente vou andando e quando vejo, já moro em outra ideia ou em outra cidade. Por hoje a vida tá galo doido, difícil de segurar, o que é estranho porque nunca senti que via as coisas com tanta nitidez. Mesmo aqui, de dentro da loucura, não sinto que esteja caminhando muito enganada, tenho a impressão de que tudo acontece rápido demais, mas àsvezes o tempo para e eu não sei parar junto.
Desde pequena tive dificuldade em freiar a bicicleta na metade da ladeira, caí muito desse jeito e depois fui desenrolando, mas era sempre um desafio. O chão de palelepípedo em frente a minha casa quando chovia escorregava ainda mais, às vezes tinha barro junto, ralava muito minhas canelas nessas derrapadas. O sangue brotava em pequenas bolinhas sobre a pele suja e suada, mas havia tempo para ver tudo isso acontecer, tinha tempo de ver bolinhas de água e sangue reclamando espaço sobre o joelho sem pressa nem coragem de passar a mão em cima e seguir viagem. Acho que por aqui choveu e tá difícil freiar a bicicleta sem cair. O que deseja um corpo cansado? Do que é capaz um corpo cansado? Que revolução se faz morando em um corpo exausto?
O mundo cessou de ruído nesses dias de festa. Comprei uma fantasia e fantasiei que cabia na multidão, mas ela era muito grande e faltou espaço dentro de mim. O que deseja um corpo cansado? Um corpo cansado deseja e arde? Qual o valor do desejo que se mantém à revelia do corpo cansado?
Indagora achei um texto de desesseis anos atrás chamado "o banzo do retorno", coisa que anda junto com isso de viver de arribada como tenho vivido. Ficar é um aprendizado difícil, assim como silenciar a mente depois de partir. Naquele tempo eu já sabia que não cabia na multidão, o novo é saber onde de fato caibo. O silêncio se fez nesse carnaval, não soube, não vi, não consegui, vinha louca, viceral, agora estou sentindo com calma. Tem hora que é bom e tem hora que dói, mas a teima com o silêncio é sempre perdida.
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