Carta para F. Augusto.

Antes de ir embora ele marretou bem minhas paredes, deixou palavras duras vestidas em um tom de voz estrangeiro, aquele não era o meu bem, o da voz doce que leva o coração na mão, o que soube me amar mesmo quando achou que não sabia.
Ele usou palavras duras demais, bebeu todo o pessimismo naquele discurso e jogou fora a criança junto com a água suja do banho. O moço ríspido que falou comigo disse que nós sabíamos que aquilo nunca iria funcionar e a poucos dias nós planejavamos como estaríamos juntos sem importar tanto quando seria. Eu teria esperado por uma conversa tranquila, ele se sentia oprimido por uma obrigação de estar, mas não era comigo que se relacionava quando se sentia assim. Ele não conseguia admitir quão grande era seu medo, há semanas havia entrado em pânico e nunca mais saiu. Quando sentiu que não teria coragem para reconhecer o quanto foi feliz no meu peito, se esquivou sabiamente. Me lançou longe, distante, por detrás dos arbustos do fundo do quintal e quem entrasse pela porta da frente não conseguiria me ver. É novo para ele, me jogar secamente para fora e fazer aquilo que os homens fazem quando precisam fugir de si, nos bloqueiam a passagem do sentimento, a manifestação da palavra. Ele falou comigo com um tom de voz de pânico e desleixo. Que tão grande pode ser o monstro que ameaça comer a alma daquele rapaz? "Preta, eu sou de verdade." Acho que foi aí onde eu desisti de sair correndo, eu buscava um homem de verdade (o que há de ser?) e quando vi o que queria ver, se tornou real. Esqueci por um instante que a verdade nunca passa inteira pela porta, deixa sempre uma ponta não refletida.
Quando olho, vejo alguém que ficou meio de costas. O amor pode ser mesmo muito desconfortável. E a essa hora na avenida Rio Branco roupas minimalistas estão sendo vendidas com detalhes bregas de flores e beija-flores. Os designers procuram manter a própria fineza não vestindo o que eles mesmos propõem. 
Meu bem não me olhou. Me tirou a poesia e partiu meu coração.
Que tamanho deve ter monstro que devora as poesias?
Por ter ido embora poucas vezes, não sabia sair com elegância. 

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