rama de alecrim

da rama de alecrim, dizem que é dourada. eu mesma nunca esperei que me curasse nada, nem que me benzesse. de certo me preocupei de um bem querer. quis arredar carreira, mas há de se desconfiar quando não falta assunto, rezo ou riso. coincidências rompiam os ponteiros dos relógios, tetos se erguiam abrigando-me das horas grandes, das noites pequenas, dos dias seguintes, gigantes e conturbados, apenas um, sem obrigação de compra.

da rama de alecrim, dizem que é dourada. por essa nunca esperei. busquei que fosse verde, acinzentada até, e no alecrim nada encontrei de previsível. seu rezo teve um ritmo que me deixou encabulada, foi passando por camadas de pele, sussurrava-se ventos do sul aos ouvidos nordestes que, encorpados e suculentos, não sabiam o que fazer com sua fama de aridez na qual somente eles criam.

sonhei com as imagens das memórias alheias, inconveniente, adentrei onde não fui chamada. meu sono me tangeu à agonia de não pertencer a nada ali, mas porque então a rama se faria moita e cama para que me deitasse? me fiz folha e talo, e logo terra. plantaram-se em mim, a mesma rama de alecrim, da qual chamam dourada. por ela nunca esperei.

desconfiada. encabulada. tangida. tangente. dei de beber à rama e agora não sei como olhá-la. ela se tornou íntima minha como um sambudo estalando os dedos do pé de outro, parceiro seu, e sarrou folhas em minha pele correndo grande risco de acarinhar-se-me, seja lá o que isso for. ao acordar a vi, arredei dali após novamente benzer corpo, perfumando mato de cura. dizem que é dourada. por essa nunca esperei.

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