Sobre a falta de fronteiras


Já não mirava a muitos lados. As coisas adiante lhe pareciam melhor opção, só pela possibilidade de ser diferente dos retratos cotidianos, que tentava não olhar no tempo livre antes do sono.
A casa, são muitas, tão cheias de quase nada.
Os caminhos, mais curtos se estava andando.
Mais longos se são os sonhos de alguém.
Tudo estava aqui e acolá sem cambio de deslocamento, de distância, só a velocidade que era sempre ameaçadoramente alta, e sem freios a vida descia barrancos.
A distância continuava a mais sedutora de todas as damas, e ela a mais desejosa por percorrer seu corpo, e talvez ficar por algum lado.
Toda estrada era estada também. Se todas as coisas eram e são a mesma coisa, lugar, pessoas, línguas, amor.
Se é, é em qualquer lado.
[Não sabia quem disse que as pessoas são daqui ou dacolá se todos podemos ter as mesmas pernas, ou alguma perna, nem que sejam pernas imaginativas, pra serem todos cidadãos do mundo, tudo sem fronteiras.]
Será?
Há coisas sem fronteira no mundo.
Amores.
Saudades.
Sabedorias.
Há quem assevere sobre a necessidade de negação, de algo e de tudo, pra dar sentido, identidade, territorialidade. Há que ame, sinta saudade ou simplesmente haja construído saberes, à revelia do universo de regras lá de fora, e daqui de dentro. Há quem imagine ser livre ao ponto de sonhar não ter fronteiras.
Há quem acredite que conseguiu sete dias de felicidade plena. Curto talvez. Quem sabe o tempo necessário para provar seu sabor e elevar os valores da vida.
Os caminhos tortos eram mais saborosos ao final, com uma paciência irmã e um amante romancista. Algo de memória que traga sorrisos soltos ou sobrancelhas franzidas. Quando lembranças e desejos se misturam, já não se descreve que expressão as testas e olhos formam no abraço da cara desprevenida.
Já não mirava mais a muitos lados. Parecia que mirava para dentro da própria cabeça, do corpo, vãos, vazios e banais, vãos.
Lembranças e desejos... são coisas que não estão ali e por isso ocupam tanto espaço vão.

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