Amor de gente estranha ... Bolinhas de sabão

Eram gente estranha. Viviam em bolhas, bolinhas de sabão pra ser mais exata. O tempo todo se olhavam, sentadinhos dentro de suas bolhinhas, e sopravam tentando fazer com que elas se aproximassem. Sussurravam: "Oi! Tudo bem?" E de tantas e tantas voltas sem se encostarem resolviam ser sinceros... sopravam mais e de pertinho sussurravam... "Te amo! Te amo!"... apaixonaram-se dali de dentro do cômodo e úmido mundo redondinho no qual sempre estiveram. Quiseram então sair, tocar-se, saber como é duas gentes estranhas na mesma bolinha de sabão pequena e aconchegante.
Mas aquelas bolhas eram sensíveis e podiam estourar. Certamente cairiam dali. Não parecia seguro mas era desejado. Logo abaixo havia folhas gigantes e macias onde certamente ao cairem teriam amortecida a queda. Eram folhas da planta sagrada. Chamava-se amor, mas eles não conheciam seu cheiro maravilhoso. Dali da bolinha de sabão eram seduzidos pelo que viam e sentiam dentro de si... querendo sentir de fato o outro dentro de si. Mais abaixo, nas sombras daquelas mesmas folhas havia um oásis farto de onde se via céu e mar, onde havia fartura e fortuna e onde poderiam muito bem viver. Mas, com tudo isso, nunca haviam saído de suas bolinhas de sabão. Tinham medo e achavam que a queda seria fatal.
Um belo dia, com o peito repleto daquele sentimento forte que não sabiam o nome, sopraram mais forte até que as duas bolinhas se juntaram! Encostaram-se e sentiram os pés gelados e o peito quente, em explosão! Então sorriram felizes e sussurraram... "agora te amo de perto!"
Mas ainda eram duas bolinhas... unidas, porém, duas.
Quando chegaram perto o suficiente e puderam ver os olhos um do outro viram nos reflexos que ele já morava dentro dela... e ela dentro dele. Pensaram... se já estou aí não devo mais estar aqui. Sentiram fascinação e leveza e, sem medo de cair, beijaram-se.
Neste exato momento as bolhas estouraram restando apenas por alguns instantes as gotinhas daquilo que foi suas casas. Sem muito se molharem, sem muito desesperarem, foram abraçando-se e caindo e o que antes parecia ser medo, nesse momento foi êxtase e imensidão. E deslizaram juntos pelas folhas macias do pé de amor que estava logo abaixo caindo no oásis de supetão.
Um leve impacto os fez abrirem seus olhinhos e surpreenderem-se com o mundo. Olharam, estranharam, até sentiram falta do brilho leve da bolinha de sabão onde viviam mas quando tentaram esticar as perninhas e bracinhos, tão pequenos e contidos nas antigas moradas, viram o prazer de se espreguiçar, aprenderam a andar e a falar alto por mais que seguissem sussurrando a todo tempo um para o outro... "te amo!". Percorreram o mundo todo, conheceram tantas paisagens, e por fim decidiram criar uma maquininha de fazer bolinhas de sabão...
Ao fim da tarde deitavam-se juntos, bem colados e confortáveis, sobre uma grande e macia folha de amor, ligavam a maquininha e cultivavam arco-íris vários a cada raio de sol que perpassava suas bolhas. Sentiam-se bem de saberem que estavam ali, juntos e livres, colados, tendo o mundo por andar. E seguiam calados com tanto ainda a sussurrar.
"...te amo ...te amo"

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