Navalha na Saia

Agora eu vou falar

Se não vou explodir

Porque a minha doença

Só eu posso sentir

Raiva, tristeza

Angústia e medo

Todo dia toda hora

O nome disso é preconceito

Sou mulher sou negra

E isso não é clichê

Macho reiera não entende

Esse verso é pra você

Que se acha o rei do mundo

Quer comprar  meu ventre fértil

Presta atenção macho de merda

Uma rainha te pariu

A mulher que tu oprime

É tua filha, é tua mãe

Ela não é uma bandida

Ela não é tua empregada

Ninguém aqui é obrigada

Não meta seu discurso falho

Na cabeça do meu filho

Presta atenção macho de merda

Homofobia é um lixo

Tira o teu pau

De dentro da minha roda

Tira tua mão do berimbau

No meu gunga ninguém toca

Tu não cala minha boca

Tu não vai me bater

Eu não vou só bater palma

Pra você sentir prazer

Segura a onda seu escroto

Vê se me respeita

Ô mestre tira o olho

Bem da minha buceta

Eu não preciso de favor

Para jogar minha capoeira

Para resistir na capoeira tem que ser de valor

É na arte é na vida

O que eu faço é com amor

Não vendo o corpo para sambar

Em terreiro de escroto

Meu terreiro sou eu

Eu junto com as minhas manas

E quando eu penso em você

O meu olhar se inflama

Tenho tanta raiva

Que não consigo nem chorar

Chorar pra preta nunca resolveu

A princesa da Disney

Nem de longe era eu

Patriarcado escroto

Me cria muita demanda

Só pra fuder a preta serve

E pra servir a tua janta

Preconceito mata

Preconceito é crime

Eu tô cansada de morrer

Eu tô bem no meu limite

Eu não quero covardia

Eu nem sei mais confiar

Opressão por todo lado

E eu não sei mais nem amar

‘Ô mulher cê tá amarga’

‘Ô mulher cê tá pirando’

‘Essa mulher vai ficar louca’

Cala a boca seu escroto

Que tu não paga as minhas contas

Nem as contas do meu filho

Que não nasceu de siririca

Eu carreguei foi 9 meses

Dentro da minha barriga

Ensino a ele todo dia

A ser um homem feminista

A não ser nenhum escroto

Nem com mulher nem com as bixas

Tira a mão do meu Ori

Não pega no meu cabelo

Me respeita sou de santo

Minha casa é um terreiro

Oxum tá na minha vida

Exu é homem que me ama

Não quero macho pra cuidar de mim

Pode casar com as tuas brancas

Me larga me deixa aqui

Que é só que eu me enfeito

Se um dia eu quis romance

Hoje o que eu quero é respeito.

Mamba Negra