para paixões ausentes

Maria acordou estranha, sentindo falta de seu braço. Era como se o vento a boicotasse soprando apenas ao redor a deixando com aquele sentimento de mormaço dentro do peito. Inevitavelmente construiu um dia calado, sem música. Passou os primeiros momentos da manhã seguindo as pistas deixadas em seu território, estranhamente alheiado... os cheiros, os objetos esquecidos e outros deixados por querer misturavam-se a ela fazendo rodar mais sua cabeça. Tentando esconder de si tantas pistas de saudade esbarrava mais e mais em sua vida acortinada pelos fios de cabelos soltos em sua cama desterriotorializada. Talvez aquilo tudo passasse pela ausência mas ainda nela tudo era presença, cheiro e algum suor.
Maria foi dormir certa noite sentindo já não ter por perto quem ainda estava lá. Algumas frases lhe rondavam os pensamentos... ela sabia o que aquele avião levava embora e era um pouco mais que um cotidiano compartilhado... era tanto de perspectiva, de possível tornando-se inexistente porque agora a paisagem era outra. Quando tomou um chá da tarde com seu destino dias atrás, havia sido alertada de que se lançariam em algum limbo aquilo que para ela era somente amor. E desde então contrariada tentava não amar conquanto era essa sua pele e seu exalar. Ela não procurava entender porque se sentia assim... se sentia triste e achava contundentemente chato. Sentava-se para contemplar o tempo passando entre a lista de atividades que sua agenda lhe lançava e só queria queimar tudo aquilo e ir-se embora também, para qualquer lugar fora daquele peito oco, confuso, subliminarmente abandonado e apaixonado.
Naquela manhã amputada e incompleta, Maria não falou nem sorriu, apenas pensou e sentiu.

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