Um novo caminho
Eu apenas estava cansada, muito cansada, e resolvi me deitar. Era o chão o lugar menos quente aquela noite, apoiei minha cabeça num colchão fino e adormeci profundamente. Passei do sono para o transe, vi Ogum juntar toda a agonia que enfiei nas minhas cartilagens e empurrar para fora pela brecha dos meus olhos. Foi o Ogum quem primeiro chorou, como quem ensinasse o meu corpo como se fazia. Quando acordei, sentia ainda aquele choro e não consegui comer, daquelas gentes cujo corpo por vezes se vende à emoção e adormece algumas de suas partes como a fome e o desejo. Fui embora rapidamente, precisava estar sozinha.
Deu que o tempo ficou lento, meio nublado e chorei um dia inteiro. No seguinte, era apenas meu corpo que chorava embrenhado nos rastros que meu pai deixou. Me senti úmida e mesmo não querendo, concordei que sentir era legítimo.
Derramei nas bacias que enchi as águas que não podiam mais se mover comigo, águas paradas. Fiquei mais viva, mais leve, olhei para diante e então o encontrei.
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