Mulher pássaro

Ela sentava-se no alto do monte, olhava e percebia todas as mesmices da vida bolsonareando no subterrâneo, sentadas em suas calçadas planas de vistas curtas. Não se movia muito em público, seu corpo transbordava impacto naquela sociedade, se retirava a uma concentração dispersa, reclusa em pensamentos e estudos profundos sobre quase nada. Narrava seus vazios da melhor forma possível sem significar que fosse aquilo grande coisa, seguia, assumia o não lugar como forma de existir e perambulava mundos substituindo todas as coisas por outras mais amenas ou mais intensas, a depender de se sangue, se suor, se lágrimas, tentando encontrar o encaixe para algumas formas inexatas.
Buscava apenas o que era impossível conseguir, como simetria ou amor. Com outras coisas apenas se encontrava e as deixava logo em seguida, antes que fosse deixada novamente. Era urgente a dinâmica do abandono, soltar tudo antes do fim parecia precoce demais mas oferecia proteção e ela seguia caminhando, sempre caminhandava e escrevivia sua alma nos troncos de árvore quando sentava em suas sombras latinoamericanas para descansar. Cansava mais ser imóvel, desesperava ser lenta, temia mesmo era a covardia. O borde do abismo lhe pareceu sempre tão fascinante que um dia lhe doeram as costas, salieron granitos na sua pele, picava, doía e um dia ela sangrou. Foi quando sua primeira pluma nasceu. Do alto daquele mesmo monte ela se jogou mas não caiu, abraçada com o abismo criou asas e voou.

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