7 Saias

Hoje eu vou pra roda
Eu vou Capoeirar
Já afiei minha navalha
Já engomei meu abadá
Arrumei a minha cria
E tranquei meu canzuá

Tranca rua vai comigo
Para o caminho guardar
Mas na hora do jogo
Quando aquele mestre escroto
Resolver me assediar
São duas contra um, seu canalha
Pomba Gira tá nas área
Pra minha navalha guiar

7 saias bem cortantes
Girando freneticamente
Em direção ao agressor
7 picas cairão
espalhadas pelo chão
Te mato eu com muito amor

Amor a mim e a tantas outras
Agredidas em público no meio da roda
Por um brutamontes mestre de nenhuma bosta
Queimadas em casa por um neandertal
Aclamado feito rei do reino do macacal
Assediadas por tantos que onde há jogo
Só conseguem ver o gozo
Raso e imundo de ratos de esgoto

Das que não podem se amar
entre fêmeas superiores
que logo são expulsas
Pelos infames senhores
Homofóbicos estupradores
Maridos adúlteros traidores
Éticos fingidores
Que não denunciam e expõem
Os fétidos coleguinhas perseguidores

Onde homem só sua
Mulher só tem cheiro de buceta?
Vamos parar com essa treta, careta!
Feminicídio é minha navalha
Que guardo nas 7 saias
Cortando tua jugular

Quando no jogo na minha bunda tu pegar
Quando na roda minha buceta tu desejar
Quando tu vier questionar a corda que eu usar

Eu não dou saltos mortais e nem floreio pelo chão
Minha voz não ecoa pra quatro quarteirão
Mas esse gunga, seu imbecil
Tu não tira mais da minha mão!
7 saias de navalha pra espantar vilão
7 manas de mãos dadas pra proteger a que foi atacada

Tu não toca nela
Nós estamos blindadas
Tu não toca em mim
Eu não vou mais me calar
E não é que não sinta medo
Não tenha receios
Pelas assimetrias que percebo

Não é natural
Tantos machos nesse quintal
A desautorizar as denúncias das mulheres
Em nome do que é tradicional
A tradição que me mata
sucumbe junto comigo
Não respeito meu inimigo
Porque o golpe vem com título

Levanto-me e não retrocedo
Minha alma por respeito
À integridade que mereço
Corta cana corta carne
Toca fogo no canavial
Feminismo na capoeira
e machos na fogueira
Mulheres mortas nunca mais no jornal.

Mamba Negra

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