Saudosas Saudades Daquele Rude Silêncio

Ela não podia retirar uma só palavra de dentro de si se ele a olhava daquele jeito rude. Seu silêncio costurava nela a boca desde dentro para fora e seguia pontilhando seus pedaços jogados todos naquela órbita. A física dele a rechaçava, enquanto ela sentia sua gravidade.
Mil vezes nela se lançaria! Porque se ele a tocava a pele ela perdia o sentido das coisas...
De repente ela desaprendia tudo... porque não sabia nada mais? Sentia-se a mais ridícula entre todos os seres porque sentia essas coisas estúpidas de toda gente apaixonada. Sem perder tempo em outros devaneios conseguia lembrar com riqueza de detalhes aquele sorriso e a cor daqueles olhos, banhados de um castanho translúcido, de apertado e definido contorno como era todo seu rosto, mesmo escondido atrás de masculino emaranhado. Como talvez fosse todo seu corpo em devassos detalhes noturnos e com poucas mas muito específicas lembranças de tato e desejo.
Ela dizia que sentia saudades porque era o único que podia dizer sem nem mesmo isso poder. Ela conversava como gritos em cavernas... ecos e mais ecos de sua própria vontade. Esperar por ele não fazia sentido embora ela esperasse.
Sabia entretanto que esperar é sempre um erro visto que o que se quer ter raramente vem a abraçar-se em nós, desejantes.
Sobre utopia? Nenhuma. O desejo morre nos braços de qualquer um. O corpo passeia por outros corpos e segue seu caminho. O problema era o sentimento que se propagava em detrimento e à revelia da ausência e completo silêncio dele. Era outra vida seguindo seu caminho, fazendo sentido e tendo também outros corpos, outros desejos, outros enlaces, e talvez por isso aquele silêncio... ou simplesmente porque ele não tinha nada que dizer-lhe. Muito provavelmente não interessava voltar aos lapsos de curta emoção daquela moça desinteressante que o queria ter bem perto.
A moça não sabia dele, mas ainda perdia o equilíbrio, o ar e todas as outras noções básicas de existência quando lembrava de sua mão na sua nuca... ou do cheiro dos cabelos dele... ou de sua respiração quando dormia diante dela, torturando-a com o estar tão "à mercê".
No fim das contas, as contas nunca foram feitas... Eles tinham corpos passeantes que não se encontravam e ele a tinha por completo sem sabê-lo ou possuí-la.

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