Entre poesias concretas e conceituais, entre variadas formas de poesia a serem exploradas um texto-vômito cru sobre o que se não for expulso agora, daqui a 5 ou 10 anos pode se configurar como um câncer, quase tão fatal quanto fazer sofrer um amor.


Estou sofrendo a possível dor que sentiria meu amor se eu lhe falasse de meus sentimentos. E sofro por sentí-los todos e não querer fazer-lhe sofrer conhecendo-os. Mas o que se passa é que a minha condição de ser cultural, consciente de um treinamento sentimental específico, não me impede de ser ambígua e ridícula. Ao contrário, quando se trata das questões do amor, a racionalidade é uma das últimas grandes sábias saídas a ser consultada. Neste caso é o que tento fazer, trazer às minhas questões de amor um acesso a algo que me conceda a mínima tranquilidade espiritual.

Estou entre um amor que me precisa toda e um desejo que me reparte em pedaços demasiados para um ser humano qualquer. Esse amor eu também amo, e o quero tanto que não posso imaginar minha vida sem ele. É meu primeiro e meu último pensamento todos os dias. É meu cotidiano e meus dias de festa, quase todos que posso imaginar. Esse amor é o que me preocupa em não ofender, não magoar, não maltratar, não desrespeitar. É de fato o que toma boa parte de meu zelo por qualquer coisa com a qual eu conviva. É parte de todos os meus sorrisos e são para esse amor meus melhores versos, minhas maiores ilusões e entregas. Minha imagem invertida... não sou eu mas são minhas intersecções e fronteiras todas. E por isso amor.

Meus pedaços separados pelo desejo me corroem, me machucam. São parte integrante de uma auto-repressão-repreensão contra situações que possam oferecer riscos ou males à estabilidade de um amor total. Meu desejo se rebela contra o que é total no meu amor, no que é único e se quer dual e invariável sempre. Chego a não saber o que escrever por não saber antes o que sentir. Porque agora eu sou toda confusão, toda angústia, toda questão... toda franqueza... e tanta franqueza justamente por haver amor e preocupação e zelo.

Que estabilidade é essa tão sonhada? A das práticas ou a dos sentimentos? Se estes não me são estáveis como conviver com práticas minimamente limpas? Somatizo meus sentimentos e chego a ter vertigens. Sono? Acho que não. Apenas desejo de dizer tudo, em confessar sentimentos contraditórios desejando ardentemente ser compreendida e crendo previamente que isso não irá acontecer. Eu quero a lua e o sol juntos, num mesmo abraço... tudo e cada coisa, irreais.

[...] ...?... [...]

Se a estabilidade não te dá felicidade talvez você deva questioná-la. Mas o amor é irracional, então ignore-me.

Comentários

suzana disse…
continua a ouvir o rio sim. e tendo chegado a esta margem rústica moderna aqui, percebo que ele está revolto, agitado, indeciso entre ventos contraditórios e indiscutivelmente encantador e cheio de beleza! e se eu não entendi tudo, eu senti bastante e confesso que queria um pouco dessa totalidade irracional na vida, mas fico muito confortável(covarde?) na minha racionalidade, apenas dando vez ou outra vazão a um pedaço de desjo.

saudade sempre, nêga! :**
Anônimo disse…
ele não vai entender, mas desde quando isso é motivo para não falar?
se as pessoas só falassem quando fossem ser entendidas, esse seria um planeta bastante silencioso
Matuta Moderna disse…
talvez apenas meu tenha sido forçosamente silencioso... mas também quem disse que as palavras sempre saem quando nós pensamos nelas ou as queremos? As vezes elas mantêm sua força e vida próprias. Não me pergunte como.

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