Tarde Muda

Quando olhei para dentro da xícara buscando ver os reflexos daquele café amargo, me vi. Vi meus olhos e a imagem tremia. Meu nariz parecia maior que o normal considerando que ele já não é um narizinho de princesa, está mais para uma bela Fiona. Mesmo assim a imagem refletida na superfície daquele café mal feito era bonita.
Enquanto tomava o café, olhava pela janela. A cada olhada um novo amor, sempre pela mesma paisagem que nunca era igual. O vôo repentino dos pombos sujos as vezes me assustava. E assim, com as ventas pra fora mirava o passar da nuvens sobre aquela pequena montanha enfeitada no pé pelos prédios da Tijuca e pelos casarios mais ou menos antigos da Muda. Do outro lado, logo atrás de mim, uma encosta e pequenas casas equilibradas umas sobre as outras, e sobre o morro.
O vento me faz tossir mas acaricia e deixa qualquer um feliz depois dos malditos quarenta graus de ontem. (Agora entendo como quarenta graus é ótimo na praia e horrível no asfalto).
E o pombo? O pombo é um bicho estranho assim como a cidade. Ele normalmente consegue ser bonito, mas é sujo! Suas penas brilham, mas tocá-las? Acho que não. Ele de fato domina a cidade. Vá a qualquer lugar aberto e lá ele estará, impregnando.
Mais um vôo e mais um susto.
Mas as nuvens passando por trás da pequena montanha beira de floresta sempre tomam a cena. E a essa altura aquele café ruim já esfriou.

Comentários

suzana disse…
Ai como eu perco em demorar a entrar aqui! Bom lhe ver assim, fazendo poesia do cotidiano!

saudade e depois a gente continua a prosa virtual. =P

e eu acho que sou as duas coisas (se não for mais!) árvore, canoa...

=***

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